segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fundo do mar - Sophia de Mello Breyner Andresen


No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A tartaruguinha - João de Deus Souto Filho


A tartaruguinha
Do pifuripafo
Não pifuripafa
Na pifuripinha.
.
O tartaruguinho
Só pifuripafa
Com a tartaruguinha
Na pifuripinha.
.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um, dois, três - Eugénio de Andrade


Um, dois, três.
lá vai outra vez
o gato maltês
a correr atrás
da franga pedrês,
talvez a mordesse
apenas no pé,
o sítio ao certo
não sei bem qual é
(quatro, cinco, seis),
ou só lhe arranhasse
a ponta da crista,
e talvez nem isso,
seria só susto,
ou nem sequer mesmo
foi susto nenhum:
sete, oito, nove,
para dez falta um.
.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Por Olavo Bilac ...


"É preciso, desde a infância
Ir preparando o futuro;
Para chegar à abundância,
É preciso trabalhar.
Não nasce a planta perfeita,
Não nasce o fruto maduro,´
E para ter a colheita
É preciso semear."
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Concedido pelo querido amigo e escritor Manuel Marques


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Querido amigo Manuel é um privilégio contar com seu prestígio e apreço, muito obrigada! Beijos!!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Nossa irmã, a mosca
É feia e tosca
Enquanto que o mosquito
É mais bonito
É mais bonito
.
Nosso irmão, besouro
Que é feito de couro
Mal sabe voar
Mal sabe voar
.
Nossa irmã, a barata
Bichinha mais chata
É prima da borboleta
Que é uma careta
Que é uma careta
.
Nosso irmão, o grilo
Que vive dando estrilo
Só pra chatear
Só pra chatear
.
E o bicho-do-pé
Que gostoso que ele é
Quando dá coceira
Coça que não é brincadeira
.
E o nosso irmão carrapato
Que é um outro bicho chato
E primo-irmão do bacilo
Que é irmão tranqüilo
Que é irmão tranqüilo
.
E o homem que pensa tudo saber
Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter
Quando o seu dia chegar
Quando o seu dia chegar
.
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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mistério de Amor - José Paulo Paes

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É o beija-flor
que beija a flor
ou é a flor
que beija o beija-flor?
.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O medo do menino - Elias José

Que barulho estranho,
vem lá de fora,
vem lá de dentro?!
.
Que barulho medonho
no forro,
no porão,
na cozinha,
ou na despensa!...
.
Será fantasma
ou alma penada ?
Será bicho furioso
ou barulhinho de nada ?
.
E o menino olha
na escura escada
e não vê nada.
.
E olha na vidraça
e uma sombra o ameaça.
.
Quem se esconde ?
Esconde onde?
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Vai já pra dentro, menino - Pedro Bandeira


Vai já pra dentro menino!
Vai já pra dentro estudar!
É sempre essa lengalenga
Quando o que eu quero é brincar...
.
Eu sei que aprendo nos livros,
Eu sei que aprendo no estudo,
Mas o mundo é variado
E eu preciso saber tudo!
.
Há tempo pra conhecer,
Há tempo pra explorar!
Basta os olhos abrir,
E com o ouvido escutar.
.
Aprende-se o tempo todo,
Dentro, fora, pelo avesso,
Começando pelo fim
Terminando no começo!
.
Se eu me fecho lá em casa,
Numa tarde de calor,
Como eu vou ver uma abelha
A catar pólen na flor?
.
Como eu vou saber da chuva
Se eu nunca me molhar?
Como eu vou sentir o sol,
e eu nunca me queimar?
.
Como eu vou saber da terra,
Se eu nunca me sujar?
Como eu vou saber das gentes,
Sem aprender a gostar?
.
Quero ver com os meus olhos,
Quero a vida até o fundo,
Quero ter barros nos pés,
Eu quero aprender o mundo!
.
.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Caixinha Mágica - Roseana Murray



Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
.
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.
.
O que é que você quer
esconder na minha caixa?
.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O menino que carregava água na peneira - Manoel de Barros



Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
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Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos
.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O ron-ron do gatinho - Ferreira Gullar



O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.
.
Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.
É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.
No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.
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Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.
.

Mistérios do Passado - José Paulo Paes