segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Arca de Noé - Vinicius de Moraes / Toquinho / Ernst Nahle



Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
,
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
,
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
,
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
,
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
,
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
,
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não
,
"A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
,
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
,
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
,
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
,
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada
,

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